Dia Mundial dos Pobres e Ricos? Aires Gameiro (artigo adaptado)
O dia dos pobres é impessoal e massificante para os pobres. Pobres até no nome. Os pobres são pobres também por quase ninguém os tratar pelo nome. Quando morre um pobre poucos sabem quem era. É curioso! O muito pobre do Evangelho tinha o nome de Lázaro e o rico era um anónimo. Ao contrário, no dia de falarem dos mais ricos do mundo aparece logo uma lista dos seus nomes sonantes e da posição na ordem de riqueza, de bancos, dinheiro e mundos e fundos que têm (ou pensam ter). Apesar de um dia dos ricos poder ofender os pobres, seria favorável juntar os dois lados num único dia: Dia Mundial dos ricos e dos pobres. Dos muito, muito ricos e dos muito, muito pobres. Esse dia seria um desafio para comparar os muito ricos com os muito pobres. Vigora uma comparação de indiferença, desprezo, abandono dos pobres quando, cientificamente, se afirma que menos de uma centena de super-ricos se apropriou de 82% da riqueza em 2017 no mundo; e metade da população mais pobre terá ficado sem nada. Mais negro é o facto de que crianças muito, muito pobres serem 400 milhões; e 1,4 milhões delas estarão em risco de morrer de fome na Africa. Alguns ricos, muito ricos, tendem a reagir. Se fossem a preocupar-se com os pobres, “à sua porta” e dar migalhas a todos, deixavam de ser ricos e outros lhes passavam à frente. O muito, muito rico da parábola do Evangelho tinha só um pobre, muito pobre, à sua porta, e fez como os muito ricos de hoje com muitos pobres. Mas os pobres muito pobres não precisam só das migalhas. Precisam dos que reduzam o número e não apenas façam os ricos mais ricos. Como os grandes políticos, os poderosos e os riquíssimos deste mundo, como partes interessadas, não querem mudar a ordem de partilhar os bens comuns do planeta, mesmo sabendo, cientificamente, que não levam nada dele, os muitos pobres irão continuar mais ou menos na mesma apesar das grandes cimeiras políticas de gente muito rica e muito poderosa. E nem sequer se lhes permite emigrar para deixarem de ser tão pobres. Será progresso, esta concentração de meios em cada vez menos pessoas? Os robots poderão ser melhores, mesmo sem coração? Os ricos fazem coisas boas; só lhes falta fazer o bem aos miseráveis à sua porta. Mas nada disso impede que ricos e pobres estejam sempre a negociar. Uns para serem mais ricos e outros, mais pobres e sofredores. Estes, em silêncio doloroso, dirão: somos os critérios e juízes da vossa grandeza e da vossa desumanidade. Com grande poder invisível, quase só gritam continuamente: os reis vão nus de grandezas e de humanidade e não querem ver.