Os cânticos da Missa têm de ser especiais?
O canto na Missa está ao serviço do Louvor de Deus e da nossa santificação. Não é apenas para embelezar a Missa, nem sequer para mostrarmos os dotes de alguns, mas unicamente para nos ajudar a rezar e a elevar o nosso coração a Deus. Como tal, em cada circunstância o canto deve estar em sintonia com o momento litúrgico que se celebra. O canto deve acrescentar mais eficácia ao texto litúrgico, ajudando as almas tíbias a crescer no amor por Deus. Assim o canto penitencial deve ajudar-nos a pedir perdão de coração arrependido; o canto de Ofertório deve ajudar-nos a fazer a nossa entrega a Deus; o canto da Comunhão deve colocar-nos numa maior intimidade com Deus e a expressar a nossa Adoração e Acção de Graças. Durante toda a celebração litúrgica devemos ter a mesma atitude que Cristo teve de esvaziamento e de obediência ao Pai, para que com Ele sejamos elevados à Glória do Céu. Temos de relativizar as nossas vontades submetendo as nossas escolhas ao sentido da liturgia e pôr Deus no centro da celebração e o cântico litúrgico deve estar ao serviço deste Sacrifício de Louvor e desta Adoração. Obviamente que nem todos os tipos de música exercem este efeito em nós. Muitos dispersam-nos e não convidam à meditação e à contemplação do Mistério que celebramos, levando-nos a centrar a atenção em nós mesmos e como tal distraindo-nos de Deus. A Missa não é um concurso de “vale tudo para encher os bancos”. A Igreja e a Missa existem para levar os fiéis convertidos a chegar a Deus e no seu sacrifício levar consigo outros irmãos para o Céu. Só assim seremos sal da terra e luz do mundo. O Cristão tem de ter uma atitude diferente do resto do mundo; com a sua conversão ele deixa Deus ser Deus, ou seja o centro da sua vida. A Igreja tem uma tradição de liturgia com 2000 anos e quer ensinar-nos a distinguir e a valorizar a música sacra. Todas as músicas são compostas primeiramente por melodia, apoiadas em segundo plano por uma harmonia e no fundo um ritmo. Há estilos musicais em que esta hierarquia se inverte e é o ritmo que assume o papel principal, a harmonia é desorganizada e consequentemente a melodia desaparece, provocando com isso reacções físicas nas pessoas e não raro encontramos fiéis que na Missa que gingam o corpo, e até acompanham o ritmo com palmas. Relembra-nos o Papa Bento XVI que «a liturgia Católica só pode levar as pessoas a olhar para Deus e nunca para elas próprias, por isso é que na Missa não deve haver aplausos para os actos humanos, pois seria sinal de que a natureza da liturgia se perdera inteiramente, tendo sido substituída por diversão e sensualismo, neste caso de género religioso» e antropocêntrico, já que o homem se está a celebrar a si mesmo. Perante uma grande e alegre satisfação de algo que ouvimos na Missa e nos encanta, nada de palmas, nada de gingado; sirva-nos de modelo a reacção da Virgem Maria, que soube glorificar de modo único, no Magnificat, as maravilhas que Deus realizou na história do homem e elevando os olhos ao Céu, façamos nosso o Seu Louvor: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.”!