A busca do conhecimento é uma das questões centrais, diria transversais, da humanidade de todos os tempos, de todos os povos e culturas. Na actualidade, a ânsia de conhecimento é tal que se multiplicam os meios técnicos para, em frenesim cons-tante, nos colocarmos online, em ligação, com tudo e todos, no momento que passa. E sabemos, obviamente, que isso nos traz vantagens e desvantagens, tendo em conta os conteúdos de informação que nos chegam. Nem sempre são os desejáveis sob o ponto de vista dos valores e da mundividência cristã. Por outro lado, não temos tempo de discernir, de aprofundar, de refletir, de meditar e assimilar, o que interessa para a construção da nossa personalidade e visão do mundo. Acresce ainda o facto de todas esta conquistas e possibilidades escurecerem a nossa mente e embaciarem a nossa inteligência na busca das razões profundas da vida, do seu sentido, da sua dimensão, do seu alcance. O horizonte correrá o risco de ficar limitado, curto, sem a visão da fé que acrescenta plenitude à vida, a eternidade ao efémero, confiança nas perplexidades, esperança no desespero.

O livro da Sabedoria (Sab 9, 13-19) aponta-nos para outra fonte de conhecimento, que a informação online do quotidiano parece obnubilar, esquecer, ignorar, patente igualmente no coração da humanidade que sempre se interrogou pelo conhecimento de Deus. O autor exclama: «Quem poderá conhecer os desígnios de Deus? Quem poderá sondar as intenções do Senhor?» E concluindo, reconhece os limites e fragilidades de todo o conhecimento meramente humano: «Mal podemos compreender o que está sobre a terra e com dificuldade encontramos o que temos ao alcance da mão». Ou seja, o domínio dos conhecimentos, da ciência, da técnica não são tudo, pois não nos permitem o conhecimento global da vida, do sentido da existência, de quem nos fará felizes, neste mundo inegavelmente marcado por sinais de conquista inglória da felicidade.

A verdadeira sabedoria será aquela que nos permite olhar o mundo com a grelha dos valores da vida, da paz, da interioridade formatada para amar e acolher o Dom, do lugar de Deus que, pelo Seu Espírito, nos ilumina e nos inspira na busca do conhecimento. Desta sabedoria de vida faz parte integrante a fraternidade universal dos Filhos de Deus.

No Evangelho (Lc 14, 25-33), o Senhor pede aos seus discípulos uma entrega radical («se alguém vem ter comigo e não me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo»). Ao nosso nível, segundo a nossa condição, como pai ou mãe de família, empregado ou empresário, jovem ou adulto, até onde poderá ir a nossa entrega radical ao Senhor? Na Palavra que anunciamos, nas obras que a ilustram, na fé que atua pela caridade, no testemunho no meio das dificuldades, no serviço à comunidade, na construção do mundo novo, na coragem em levar a cruz…                     P J